Neivo Angelo Fabris – Professor de História do Colégio Estadual Antônio Scussel e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Getúlio Vargas.
Na segunda metade do século XIX foram elaborados diversos planos de viação com o objetivo de estabelece comunicações entre o Rio de Janeiro e as províncias. A ligação do Rio Grande do Sul com a região sudeste só iria ocorrer no ano de 1910, mas o serviço já estava em atividade desde 1874 entre Porto Alegre e São Leopoldo.
A primeira medida adotada para a ligação férrea entre São Paulo e o Rio Grande do Sul ocorreu seis dias antes da Proclamação da República em 15 de novembro de 1889. O decreto 10.432 assinado pelo Imperador D. Pedro II concedia ao Engenheiro João Teixeira Soares, o “privilégio para construção, uso e gozo de uma estrada de ferro. Ela partiria das margens do rio Itararé, na divisa de São Paulo e Paraná, chegando até a cidade de Santa Maria da Boca do Monte”.
O Inventário das Estações 1874-1959, realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado registra que Teixeira Soares teria negociado seus direitos com a Companies dês Chemins de Fer Sud-Quest Brésilien, empresa com sede na Bélgica. O regime monárquico deu lugar ao republicano, mas o projeto não foi abandonado;
No ano de 1894 os trilhos chegam a Cruz Alta, em 1897 a vila de Carazinho e no ano seguinte a Passo Fundo. O trecho até o rio Uruguai seria o último e o mais difícil. O traçado feito pelos agrimensores e engenheiros atravessa o chamado “Sertão do Alto Uruguai”, área que integra o território de Passo Fundo que desde 1857 havia sido elevado à categoria de município.
No primeiro dia de janeiro de 1910 a primeira leva de imigrantes com destino a Colônia Erechim desembarca na estação com o mesmo nome, no entanto, a inauguração oficial iria ocorrer no dia 3 de maio. Nesta data a imprensa da capital anunciava a conclusão do trecho Passo Fundo – Coxilha – Sertão – Erechim – Erebango – Capo-Erê. No vigésimo quinto dia de outubro do mesmo ano estava concluída a construção da estrada de ferro entre Santa Maria e Marcelino Ramos.
O projeto de colonização do governo do Estado iniciado em 1908 é incrementado com o início da operação da ferrovia. Além da Colônia Erechim, que tem sua sede instalada a pouco mais de cinco quilômetros da estação com o mesmo nome, as companhias colonizadoras Luce & Rosa e a Jewish Colonization Association (ICA) passam a operar na região. A fertilidade das terras e a crescente entrada de imigrantes que desembarcam nas nove estações entre Passo Fundo e o rio Uruguai colocam a região em evidência.
O relatório da Secretaria de Estado dos Negócios das Obras Públicas apresentado por Carlos Barbosa Gonçalves sobre a Colônia Erechim no ano de 1912 é revelador: “É a colônia mais nova no Estado, e a que mais rapidamente se tem desenvolvido, graças especialmente a estrada de ferro que a atravessa”. O mesmo documento aponta que “no 2º semestre de 1911, esta Colônia recebeu 1.788 imigrantes, formando 354 famílias e 88 solteiros”. Nos primeiros seis meses do ano de 1912 os servidores da Comissão de Terras haviam recebido 2.057 imigrantes. No período a média de chegada de indivíduos foi de 342/mês.
Ainda sobre o relatório de 1912 o registro: da demarcação de 105.621 hectares dos quais 86.824 já ocupados. E ainda, uma população de 14.400 habitantes: “de várias nacionalidades, o elemento nacional representando ainda mais da metade, e entre o elemento estrangeiro predominando os polacos e russos”. Outro fato curioso diz respeito à construção das casas: “Na área colonizada existem hoje aproximadamente 2.400 casas, e a não ser algumas das estações da Estrada de Ferro, feitas de tijolos, todas as demais são de madeira”.
Passados mais de dois anos desde a chegada dos primeiros imigrantes a única estrada de rodagem concluída ligava a estação Erechim a sede do mesmo nome, uma extensão de 4.560 metros. No ano de 1912 o Cartório Civil havia registrado 258 nascimentos, 189 óbitos e 85 casamentos. Ao longo da década de 1910 o crescimento da população e da economia permitiu o desmembramento da região do município sede. No dia 30 de abril de 1918 Antônio Augusto Borges de Medeiros assinava o decreto que criava o município de Erechim. Sua sede foi instalada na vila de Paiol Grande batizada então com o nome de Boa Vista do Erechim.
A atividade madeireira nas décadas seguintes é intensa e aos milhares as tábuas e caibros de pinheiro são depositados nas proximidades das estações. Além da atividade extrativista a produção de banha se torna uma importante atividade. No ano de 1935, quando da instalação do município de Getúlio Vargas, a estação Erechim tem seu nome modificado. No dia 31 de março é fundada a Cooperativa de Produção de Banha Santana Ltda.
No início da segunda metade do século XX a triticultura é estimulada pelo governo. A produção do cereal cresce a cada safra e no ano de 1957 surge a Cotrigo. O associativismo também seria a opção dos produtores de uva através da Vinícola Serrana e de crédito, origem da Sicredi. Conhecido como “bairro industrial”, Estação Getúlio se consolida economicamente, com destaque para as atividades metal mecânico, moveleira, vestuário. De igual modo no comércio e serviços.
A inauguração da RS-135 é outro marco para a região. Uma campanha bem sucedida garante a emancipação no mês de abril de 1988 do bairro Estação e de outros dois distritos de Getúlio Vargas. Passados vinte e dois anos os indicadores sócio e econômico revelam que os esforços da comissão emancipacionista e o “sim” do plebiscito valeram à pena.
A Rede Ferroviária Federal S/A pouco fez para manter o serviço que havia sido determinante para o desenvolvimento local. Acumulando prejuízos a cada exercício, o Ministério dos Transportes entrega em março de 1997 as malha ferroviária a iniciativa privada. A América Latina Logística (ALL) recebe a concessão por trinta anos para explorar os serviços no RS, SC e PR.
No mesmo ano a ALL desativa o trecho Passo Fundo a Marcelino Ramos. Os esforços das autoridades e empresários locais e dos municípios servidos pela rede não conseguem reverter à decisão. As negociações dos governos do MS, PR, SC e RS em torno da criação da Ferrovia da Integração do Sul do Brasil S/A colocaram a região na rota deste novo empreendimento. Investidores diversos já manifestaram o interesse no novo empreendimento que deverá ser de capital misto;
A primeira medida adotada para a ligação férrea entre São Paulo e o Rio Grande do Sul ocorreu seis dias antes da Proclamação da República em 15 de novembro de 1889. O decreto 10.432 assinado pelo Imperador D. Pedro II concedia ao Engenheiro João Teixeira Soares, o “privilégio para construção, uso e gozo de uma estrada de ferro. Ela partiria das margens do rio Itararé, na divisa de São Paulo e Paraná, chegando até a cidade de Santa Maria da Boca do Monte”.
O Inventário das Estações 1874-1959, realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado registra que Teixeira Soares teria negociado seus direitos com a Companies dês Chemins de Fer Sud-Quest Brésilien, empresa com sede na Bélgica. O regime monárquico deu lugar ao republicano, mas o projeto não foi abandonado;
No ano de 1894 os trilhos chegam a Cruz Alta, em 1897 a vila de Carazinho e no ano seguinte a Passo Fundo. O trecho até o rio Uruguai seria o último e o mais difícil. O traçado feito pelos agrimensores e engenheiros atravessa o chamado “Sertão do Alto Uruguai”, área que integra o território de Passo Fundo que desde 1857 havia sido elevado à categoria de município.
No primeiro dia de janeiro de 1910 a primeira leva de imigrantes com destino a Colônia Erechim desembarca na estação com o mesmo nome, no entanto, a inauguração oficial iria ocorrer no dia 3 de maio. Nesta data a imprensa da capital anunciava a conclusão do trecho Passo Fundo – Coxilha – Sertão – Erechim – Erebango – Capo-Erê. No vigésimo quinto dia de outubro do mesmo ano estava concluída a construção da estrada de ferro entre Santa Maria e Marcelino Ramos.
O projeto de colonização do governo do Estado iniciado em 1908 é incrementado com o início da operação da ferrovia. Além da Colônia Erechim, que tem sua sede instalada a pouco mais de cinco quilômetros da estação com o mesmo nome, as companhias colonizadoras Luce & Rosa e a Jewish Colonization Association (ICA) passam a operar na região. A fertilidade das terras e a crescente entrada de imigrantes que desembarcam nas nove estações entre Passo Fundo e o rio Uruguai colocam a região em evidência.
O relatório da Secretaria de Estado dos Negócios das Obras Públicas apresentado por Carlos Barbosa Gonçalves sobre a Colônia Erechim no ano de 1912 é revelador: “É a colônia mais nova no Estado, e a que mais rapidamente se tem desenvolvido, graças especialmente a estrada de ferro que a atravessa”. O mesmo documento aponta que “no 2º semestre de 1911, esta Colônia recebeu 1.788 imigrantes, formando 354 famílias e 88 solteiros”. Nos primeiros seis meses do ano de 1912 os servidores da Comissão de Terras haviam recebido 2.057 imigrantes. No período a média de chegada de indivíduos foi de 342/mês.
Ainda sobre o relatório de 1912 o registro: da demarcação de 105.621 hectares dos quais 86.824 já ocupados. E ainda, uma população de 14.400 habitantes: “de várias nacionalidades, o elemento nacional representando ainda mais da metade, e entre o elemento estrangeiro predominando os polacos e russos”. Outro fato curioso diz respeito à construção das casas: “Na área colonizada existem hoje aproximadamente 2.400 casas, e a não ser algumas das estações da Estrada de Ferro, feitas de tijolos, todas as demais são de madeira”.
Passados mais de dois anos desde a chegada dos primeiros imigrantes a única estrada de rodagem concluída ligava a estação Erechim a sede do mesmo nome, uma extensão de 4.560 metros. No ano de 1912 o Cartório Civil havia registrado 258 nascimentos, 189 óbitos e 85 casamentos. Ao longo da década de 1910 o crescimento da população e da economia permitiu o desmembramento da região do município sede. No dia 30 de abril de 1918 Antônio Augusto Borges de Medeiros assinava o decreto que criava o município de Erechim. Sua sede foi instalada na vila de Paiol Grande batizada então com o nome de Boa Vista do Erechim.
A atividade madeireira nas décadas seguintes é intensa e aos milhares as tábuas e caibros de pinheiro são depositados nas proximidades das estações. Além da atividade extrativista a produção de banha se torna uma importante atividade. No ano de 1935, quando da instalação do município de Getúlio Vargas, a estação Erechim tem seu nome modificado. No dia 31 de março é fundada a Cooperativa de Produção de Banha Santana Ltda.
No início da segunda metade do século XX a triticultura é estimulada pelo governo. A produção do cereal cresce a cada safra e no ano de 1957 surge a Cotrigo. O associativismo também seria a opção dos produtores de uva através da Vinícola Serrana e de crédito, origem da Sicredi. Conhecido como “bairro industrial”, Estação Getúlio se consolida economicamente, com destaque para as atividades metal mecânico, moveleira, vestuário. De igual modo no comércio e serviços.
A inauguração da RS-135 é outro marco para a região. Uma campanha bem sucedida garante a emancipação no mês de abril de 1988 do bairro Estação e de outros dois distritos de Getúlio Vargas. Passados vinte e dois anos os indicadores sócio e econômico revelam que os esforços da comissão emancipacionista e o “sim” do plebiscito valeram à pena.
A Rede Ferroviária Federal S/A pouco fez para manter o serviço que havia sido determinante para o desenvolvimento local. Acumulando prejuízos a cada exercício, o Ministério dos Transportes entrega em março de 1997 as malha ferroviária a iniciativa privada. A América Latina Logística (ALL) recebe a concessão por trinta anos para explorar os serviços no RS, SC e PR.
No mesmo ano a ALL desativa o trecho Passo Fundo a Marcelino Ramos. Os esforços das autoridades e empresários locais e dos municípios servidos pela rede não conseguem reverter à decisão. As negociações dos governos do MS, PR, SC e RS em torno da criação da Ferrovia da Integração do Sul do Brasil S/A colocaram a região na rota deste novo empreendimento. Investidores diversos já manifestaram o interesse no novo empreendimento que deverá ser de capital misto;
Artigo publicado no jornal A Folha Regional, edição de 30 de abril de 2010 (páginas 4 e 5 suplemento especial Estação 22 Anos - centenário da ferrovia).
Nenhum comentário:
Postar um comentário